domingo, 27 de março de 2011

Exú - Parte I

Acho que não poderia ter escolhido um período melhor para postar a primeira parte deste artigo do que em março de 2011, onde várias mudanças estão em andamento no planeta e, também, neste mês em que comemoramos o Dia de Xangô Aganju, que é uma das qualidades de Xangô (no candomblé) que representa as leis e as escritas e, também é o padroeiro dos intelectuais. 

Apesar desse fato das “qualidades de santo” que existe na cultura africana e levarmos em consideração a representação de Xangô na Umbanda (que é classificado como o Orixá da Justiça e do Equilíbrio), falaremos um pouco – nesta primeira parte deste post – sobre os incompreendidos Exús e seus verdadeiros trabalhos no mundo astral. 

Por se tratar de um assunto delicado e vasto, dividi esse assunto em 2 posts. Neste descreverei o Exú Orixá de acordo com a mitologia Africana, cultuada nos diversos barracões e roças de Candomblé espalhados pelo Brasil e, na segunda parte, descreverei o Exú Guardião, trabalhador da seara do Cristo, supervisionados por espíritos elevados, nos diversos centros Espíritas Kardequianos, terreiros de Umbanda, igrejas evangélicas e católicas, etc. 

Uma dica que deixarei logo neste início da primeira parte é o ESTUDO e a PESQUISA. Antes de discutir, falar, comentar, opinar, aconselhar alguém sobre um determinado assunto qualquer: 

– LEIA, PESQUISE, ESTUDE – 

Nós temos um péssimo costume de falarmos mal ou atacarmos sobre um assunto que desconhecemos ou, como é no caso dos Exús. Passamos muito tempo ouvindo histórias furadas de espíritas, umbandistas e espiritualistas que “os Exús são espíritos escravos e que eles fazem tanto o bem quanto o mal – só pedir”. 

Mas uma coisa eu garanto como espiritualista – ISSO NÃO É BEM ASSIM. 

Melhor ainda – NÃO É ASSIM MESMO. 

Infelizmente a população que não compreende o trabalho verdadeiro desses espíritos tão importantes para todos espalham esses grandes absurdos por ai, disseminando a mentira e ferindo a imagem desses amigos que estão na “linha de frente” dessa batalha espiritual que estamos enfrentando neste fim dos tempos. 

Mitologia Africana 

Orixá Exu
Èsù é um Orixá africano, também conhecido como: Exu, Esu, Eshu, Bara, Ibarabo, Legbá, Elegbara, Eleggua, Akésan, Igèlù, Yangí, Ònan, Lállú, Tiriri, Ijèlú. Algumas cidades onde se cultua o Exu são: Ondo, Ilesa, Ijebu, Abeokuta, Ekiti, Lagos. 

Exu é o orixá da comunicação. É o guardião das aldeias, cidades, casas e do axé, das coisas que são feitas e do comportamento humano. A palavra Èsù em yorubá significa “esfera” e, na verdade, Exu é o orixá do movimento. 



Ele é quem deve receber as oferendas em primeiro lugar a fim de assegurar que tudo corra bem e de garantir que sua função de mensageiro entre o Orun e o Aiye, mundo material e espiritual, seja plenamente realizada. 

Na África na época das colonizações, o Exu foi sincretizado erroneamente com o diabo cristão pelos colonizadores, devido ao seu estilo irreverente, brincalhão e a forma como é representado no culto africano, um falo humano ereto, simbolizando a fertilidade. 

Por ser provocador, indecente, astucioso e sensual é comumente confundido com a figura de Satanás, o que é um absurdo dentro da construção teológica yorubá, posto que não está em oposição a Deus, muito menos é considerado uma personificação do Mal. Mesmo porque nesta religião não existem diabos ou mesmo entidades encarregadas única e exclusivamente por coisas ruins como fazem as religiões cristãs, estas pregam que tudo o que acontece de errado é culpa de um único ser que foi expulso, pelo contrário na mitologia yoruba, bem como no candomblé cada uma das entidades (Orixás) tem sua porção positiva e negativa assim como o próprio ser humano. 

Orixa Exu com seu falo
na mão direita
De caráter irascível, ele se satisfaz em provocar disputas e calamidades àquelas pessoas que estão em falta com ele. 

No entanto, como tudo no universo, possui de um modo geral dois lados, ou seja: positivo e negativo. Exu também funciona de forma positiva quando é bem tratado. Daí ser Exu considerado o mais humano dos orixás, pois o seu caráter lembra o do ser humano que é de um modo geral muito mutante em suas ações e atitudes. 

Conta-se na Nigéria que Exu teria sido um dos companheiros de Oduduà quando da sua chegada a Ifé e chamava-se Èsù Obasin. Mais tarde, tornou-se um dos assistentes de Orunmilá e ainda Rei de Ketu, sob o nome de Èsù Alákétú. 

A palavra elegbara significa “aquele que é possuidor do poder (agbará)” e está ligado à figura de Exu. 

No Brasil 

No Brasil, no candomblé, Exu é um dos mais importantes Orixás e sempre é o primeiro a receber as oferendas, as cantigas, as rezas, é saudado antes de todos os Orixás, antes de qualquer cerimônia ou evento. O Exu Orixá não incorpora em ninguém para dar consultas como fazem os Exus de Umbanda, eles são assentados na entrada das casas de candomblé como guardiões, e em toda casa de candomblé tem um quarto para Exu, sempre separado dos outros Orixás, onde ficam todos os assentamentos dos exus da casa e dos filhos de santo que tenham exu assentado. 

É astucioso, vaidoso, culto e dono de grande sabedoria, grande conhecedor da natureza humana e dos assuntos mundanos daí a assimilação com o diabo pelos primeiros missionários que, assustados, dele fizeram o símbolo da maldade e do ódio. Porém " … nem completamente mau, nem completamente bom … ", na visão de Pierre Verger no texto de sua autoria "Iniciação" - contido no documentário "Iconografia dos Deuses Africanos no Candomblé da Bahia", Exu reage favoravelmente quando tratado convenientemente, identificado no jogo do merindilogun pelo odu okaran. 

Sacrifício para Exu.Exu recebe diversos nomes, de acordo com a função que exerce ou com suas qualidades: Elegbá ou Elegbará, Bará ou Ibará, Alaketu, Agbô, Odara, Akessan, Lalu, Ijelu (aquele que rege o nascimento e o crescimento de tudo o que existe), Ibarabo, Yangi, Baraketu (guardião das porteiras), Lonan (guardião dos caminhos), Iná (reverenciado na cerimônia do padê). 

Outra imagem de Exu segundo a
cultura africana
A segunda-feira é o dia da semana consagrado a Exu. Suas cores são o vermelho e o preto; seu símbolo é o ogó (bastão com cabaças que representa o falo); suas contas e cores são o preto e o vermelho; as oferendas são bodes e galos, pretos de preferência, e aguardente, acompanhado de comidas feitas no azeite de dendê. Aconselha-se nunca lhe oferecer certo tipo de azeite, o Adí, por ser extraído do caroço e não da polpa do dendê e portar a violência e a cólera. Sua saudação é "Larôye!" que significa o bem falante e comunicador. 

Consiste o padê em um prato de farofa amarela, acaçá, azeite-de-dendê e um copo de água ou cachaça, que são “arriados” para Exu. 

Na nação de angola ou candomblé de Angola Exu recebe o nome de Aluvaiá, Bombo Njila, Pambu Njila, e Legbá, no Candomblé Jeje. 

Não deve ser confundido com a entidade Exu de Umbanda. 

Arquétipo 

Seus filhos são sensuais, dominadores e inteligentes. Gostam da vida cercada de barulho, muitas pessoas e romances de todo tipo. Adoram festas e não se prendem a ninguém, são muito impulsivos. Mas se amam alguém, dão sua vida se for preciso, sem pensar em nada. Gostam de ajudar e trabalhar, mas podem se tornar vingativos e extremamente cruéis. 

3 comentários:

  1. Olá Carlinhos
    Conhecer e compreender é muito bom.
    Fico feliz que você e "nossos amigos" façam esse trabalho de conscientização a respeito dos Orixas e das Entidades a eles ligadas no trabalho junto a nós todos. (aqui e lá)
    Sempre te acompanhando, aguardarei a segunda parte.
    Abraço grandão.

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  2. Axé!Axé!Axé!
    Adorei o blog!!!
    Parabéns pelas postagens...é muito bonito a história do candomblé,sou da Bahia e não tinha muito conhecimento no assunto,já passei por situações decepcionantes na minha vida por causa de inveja,fui católico,evangélico,só vi críticas a respeito da religião candomblé,sou espírita hoje e apreciador do candomblé,que dizem que sou de Oxossi com Logun Edé o pessoal mais afluente no assunto...

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  3. Obrigado pelo carinho de vocês. Acredito que essa seja uma das maneiras de levar um pouco da cultura africana, que foi tão importante para a nossa própria cultura, para todas as pessoas. Além do que é importante as pessoas conhecerem mais sobre um assunto antes de falar mal dele, pois atualmente existe muita gente falando mal do Candomblé, mas esquece de ver a religião e a cultura separadamente dos que cultuam ela.

    Oxossi com Logun Edé... interessante esse arquétipo. Logo mais postarei algo sobre o arquétipo deles....

    Abraços

    Carlinhos

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